O profeta Miqueias atuou entre 725 e 701 a.C., no reino do Sul, sobretudo no reinado de Ezequias. Ele era natural de Morasti, uma aldeia no interior de Judá, perto da cidade de Gat, cerca de 33 km de Jerusalém. Ele viveu em meio a uma realidade de conflitos e de sofrimento, especialmente da população camponesa, vítima dos grandes proprietários de terra e do exército.

Nesse contexto, o profeta, de maneira corajosa, denunciou as autoridades civis e religiosas que oprimiam os pobres, especialmente a população camponesa. Eis o seu grito contra os governantes de Jerusalém, a capital de Judá, o reino do Sul: “Vocês são gente que devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz em pedaços, como um cozido no caldeirão” (Mq 3,3).

A sua aldeia, Morasti-Gat, era marcada pela presença constante de militares e funcionários da corte de Jerusalém, que cometiam crimes de abuso de poder para cobrar impostos, recrutar camponeses e extrair seus produtos agrícolas. Guerras, violência, expropriação de terra e muito sofrimento é a realidade cotidiana da população camponesa, grupo que Miqueias chama de “meu povo”.

No tempo de Miqueias houve muitas guerras. Com Teglat-Falasar III (745-727 a.C.), a Assíria tornou-se um grande império, invadiu países e impôs pesados tributos sobre eles. Israel, desde 738 a.C., e também Judá, desde 732 a.C., passaram a pagar tributos para os assírios. Em 722 a.C., a Assíria invadiu Israel e destruiu Samaria. Milhares de israelitas buscaram refúgio em Jerusalém e em Judá. Jerusalém, nessa época, aumentou de mil para 15 mil habitantes.

Com aumento da população, houve maior produção, estimulando a ganância dos poderosos. Nesse período, o rei Ezequias centralizou o culto em Jerusalém, destruiu os santuários do interior e enfraqueceu a organização e a autonomia dos camponeses\as. O rei fortificou as muralhas de Jerusalém, e das cidades da fronteira, invadiu a filisteia e entrou em guerra contra a Assíria. Em 701 a.C., Senaquerib, rei da Assíria, invadiu Judá, destruiu 46 cidades fortificadas, cercou Jerusalém e exigiu a rendição de Judá (Mq 1,8-16, 2Rs 18,13-16). Mais mortes, mais tributos e mais trabalhos forçados para o povo!

Miqueias pode ter sido um agricultor, um ancião, representante de um lugarejo. Ele atuou como porta-voz das pessoas oprimidas contra o grupo dirigente: chefes, governantes, sacerdotes e profetas de Jerusalém (Mq 3,11). Ao contrário dos profetas da corte, ele não se deixou corromper pela ganância e pelo lucro, mas se autoafirmava como homem "repleto de força, do espírito de Javé, do direito e da fortaleza para denunciar a Jacó o seu crime e a Israel o seu pecado" (3,8).

Os capítulos 1-3 do livro de Miqueias foram escritos no fim do sec. VIII a.C. Período no qual a Palestina era dominada pelo império assírio. O texto apresenta a dura realidade do povo, esmagado pelos tributos entregues ao império e aos dirigentes de Judá. Além do mais, no dia a dia o povo era explorado pelos fazendeiros, militares e governantes de Jerusalém.

A vida da população camponesa estava ameaçada: perda da família, casa e terra. É a real ameaça da desintegração e perda da sua identidade familiar-comunitária. A vida de muitos povos hoje também é ameaçada. Que nós e nossas comunidades estejamos dispostos a renovar nossa aliança com o Deus da vida e junto com o povo caminharmos rumo a um novo êxodo. Que possamos realizar o apelo profético: "praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o seu Deus" (Mq 6,8b).

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Maria Antônia Marques

Assessora do Centro Bíblico Verbo e professora na Faculdade Dehoniana, em Taubaté, na Faculdade Católica de São José dos Campos e no Itesp, em São Paulo. Juntamente com o Centro Bíblico Verbo, tem publicado todos os anos pela Paulus um subsídio para reflexão e círculos bíblicos para o mês da Bíblia. O do ano de 2016 é Defesa da família: casa e terra – entendendo o livro de Miqueias.